sábado, 21 de abril de 2007

A Ordem da Mosca ( cap VI ) - Tem Mosca na Sopa do Aiatolá


IRÃ


- Última chamada! Chiraz, linha 307 sai às sete. Alardeava o irredutível comissário de embarque da “Expresso Zayandé”. Sua voz conferia-lhe uma verossímel austeridade profissional, quase uma intimação, não o fosse a tenra idade. Sim, o garoto iraniano expunha uma certa vaidade pertinente à afirmação dos jovens através do trabalho e que, sem exagero afirmar, em farsi, assumia uma superlativa aura de nostalgia.
Fato que em seus autos, a massa falida Expresso Zayandé, não possuía licença para trafegar fora dos limites de Isfahan, em ocorrência de sua situação jurídica. Tampouco para investir um vintém que fosse na renovação de sua frota - com efeito, era a maior e mais obsoleta caravana de latas-velhas da cidade.
Pois sim, foi exatamente encabulada e sacolejante a conquistar os mais austeros buracos da viela poeirenta que partira o último carro da intrépida viação.
O estilo bricabraque hegemônico nas aromatizadas e hipnóticas “chaykunés”, casas de chás mais elegantes do planeta, sempre dispostas à poesia secular, aos românticos narguilés, com seus saborosos aromas, instaladas sobre as decrépitas pontes de pedra do antigo império persa, eram inadvertidamente transversalizadas pela artéria obstruída e eloqüente do tráfego semanal, o que constituía em si, um paradoxo.
A despeito do feriado da Áurea Condolência, descobriam-se uma romaria estática através da qual desfilavam buraqueiras corruptas e imperfeições afins daquele acidente paisagístico que em um emirado longínquo havera de chamar-se pavimento. Restava a nuvem ciano que os escapamentos expeliam, confundindo-se com a poeira da rua e garantindo a débeis pombos um enfileiramento deveras desajeitado no parapeito do centenário para dali a pouco, provavelmente aflitos por ar puro dispersarem-se em gorjeio mútuo.
Andrew farejava fumo suave, orvalho jovem com sabor de maçã, menta ou laranja, embalado pelo som das águas sob a ponte Chuby. Taciturno a perambular o labirinto de vielas estreitas que ligam os trinta e três aros da ponte Si-o-Sé, todos invariavelmente cênicos, era naquela noite constelada aportado por voluptuosas formas de neon violeta nas torres de templo e vento pontuadas por estradas bucólicas e fragrâncias que indicavam os sabores milenares do império que ainda iam à mesa.
- “Saudoso velhaco!”. Era a sentença que lhe pairava a idéia ao avistar a silhueta familiar acomodada próximo à janelinha forrada de tapete, lânguida que não se opunha nem por um instante em conjugar seu “ghalian”, com uma robusta esfiha recém sacada do misterioso pacote pardo, num movimento sagaz que dizia respeito aqueles destemidos cowboys do velho oeste, dir-se-ia um John Wayne.
Ali estava Nado Rosso, a quem Andrew capturava com olhar atônito e que desta vez, conduzia a cena como um foco de uma velha super-oito. Uma super-oito imaginária e alheia ao tempo, que internalizava a paisagem rococó, recriando-a em pequenas tomadas daquele estranho mundo.
À sua maneira, dissimulava Andy, um andar objetivo e apanhou-se a rir da aura de detetive. Voltar a si, mudar de estratégia, concordou. Lhe ocorreu então, que se não estivesse ali para ter com Rosso, seria provavelmente um observador de pássaros daqueles melancólicos programas de tv da Transtel Produtora. Diminui a marcha como o fazem os curiosos nas adjacências dos acidentes de trânsito.
Havia um desses bartenders. O do tipo bartender, e também havia, é verdade, um desafino uníssono de risadas descartáveis alheias aquele epopéico reencontro. A voz de Nado Rosso não é, a rigor uma voz imponente, mas talvez ressonasse como uma vibração sutilmente enérgica para além do desembestar da rouquidão:
- Chay! Concordava com o cara de avental, o que fazia o tipo bartender, que aproximava-se de sua mesa oferecendo a bebida quente acompanhada por cristais de açúcar para serem postos a boca e derretidos pelo chá, em uma manobra atávica, a desalojar um desdenhoso bocejo.
A lei seca iraniana, longe de ser apenas uma instituição é por excelência, um discurso. – Chivas! Proferiu a esmo Nado Rosso orientando com inconfundível gesto de dois dedos. Por um instante desejou não transitar com proficiência em farsi, para que o falatório massivo viesse a transubstanciar-se num único fluído sonoro despojado de sua função original – comunicar. Ocorreu então, que em uma solubilidade meteórica, Rosso é arrancado violentamente de sua voluntária introspecção do abstrato ao aproximar de uma sombra viva, oriunda de um passado próximo.
- “...Ah! ambição ocidental! Só não é menor que a avidez desta mosca à espreitar meus cubos de açúcar. Aludiu, em tom irônico ( que lhe prestara de faixada para o súbito desconcerto gerado pelo visitante) e prosseguiu sem desviar o olhar jurídico sobre o jovem:
- Codinome Homem-Mosca. Ao que instantaneamente replicou o rapaz. – permita-me observar-lhe, mas não há aqui em Isfahan, um único fiapo de prova que evidencie jus ao emprego de formalidades!
- É verdade. Avaliou o velho e desta vez sua voz assumia um tom indulgente. Sendo assim, será um prazer que se apresse junto à nossa casa, afim de saborear algumas de nossas especialidades acompanhadas por bom fumo. Sem hesitar o recém chegado assume assento sobre a esteira, buscando sucessivamente um alojar-se confortável e num segundo momento, à revelia do semblante costumeiramente sisudo que o tempo moldara no intuito de conferir-lhe escudo ante a aridez do mundo, assinalara um pacto de trégua sob efeito da penumbra que adentrava mansamente o ressinto e assumia enfim, deliberado ar de amistosidade:
- Percebe-se, e isso é espantoso Nado, que para um técnico em explosivos te tornastes um proeminente ecônomo.
- É um empreendimento modesto, em que a grandiosidade repousa na intenção de prover aconchego às almas cansadas e refúgio a ocidentais insatisfeitos com sua comida-lixo, digo fast-foods. Refletia Rosso, emprestando ainda que ínfimo, um tom de ironia as suas considerações e acrescenta ainda:
- Sabe Andy, o fim da vida é o fim da vida até mesmo para um assassino saudita e merece ser assistido pelo cajado da dignidade. No entanto, não esperava a pronta réplica do jovem :
- Deixa de conversa mole seu porco! É evidente que não escolheu o Irã apenas para ser o recôncavo de sua aposentadoria.
-Não? Pois prossiga. Orientou o velho sem despojar-se da atitude serena.
- Ou seria porque a vizinha Teerã é a capital mundial do MDMA e esta espelunca a faixada perfeita para lavar seu faturamento sujo? Retaliou o sisudo jovem.
- Ah... o MDMA líquido. Leia-se, a matéria prima para amortecer o mal-estar da civilização densamente povoada pelos amantes do liberalismo e da democracia. Pondera Rosso que no tocante à acusação recente presta-se a mais uma rajada de humor negro : - Francamente meu caro confráter, acaso pensou o patrício que o Hezzbolah é nosso único artigo exportação?
- Deixa ver. Após anos operando em conjunto, parece coerente que a milícia ofereça guarida à suas transações. Conclui o jovem a equação que lhe empresta a impressão de um inelutável sentido e prosseguiu – Mesmo um organismo de caráter fatricida depende, por assim dizer, de uma estrutura financeira que o sustente e nesse caso, o percentual exigido não é nada modesto.
- Pra um delator profissional, sentencia o velho, te saístes um analista político não menos que promissor. Outrossim, temo precipitar-lhe que o ponto é que a milícia fundamentalista é o povo. São estudantes, advogados, são os operários e se por um lado estão camuflados em áreas civis, o “Consorte das Rapinas” não apresenta menor constrangimento em considerá-los alvo. Afinal, são os “Caras do Mal”.
- É tudo muito bonito. Não o fosse o fato de cooptarem o imaginário público como campo de exploração ideológica. É o que chamamos de engenharia de consentimento. Numa próxima etapa não encontram resistência para que a população lhes sirva de escudo, basta que sigam seus sentimentos. Ao que o velho lançava mão de sua última e letal ogiva:
- Parece que a apropriação indevida não é monopólio apenas do Governo Imperialista, não é mesmo meu duplo-cidadão? Acometido de um potencial ímpar para o sarcasmo, pontua o velho Rosso: - Pois falemos de sentimentos. Seriam acaso, compostos por uma substância comum à que tão friamente soubestes suprimir quando da delação de seu afeto compatriota? Como se chamava mesmo? Deixa ver... ah, como poderia? – Esteban Maroto, não é esse o nome?
- Calhorda! Espumava Andy. Foi você quem colocou os explosivos no carro dos calouros. A missão era compartimentada e não havia condições para eu compreender as conseqüências ao entregar-lhes o Dossiê Esteban.
- Uma operação conjunta eu diria. Precisou o velho. Nascida da multisciplinaridade em que seus serviços foram de suma importância.
- Velho filho da puta! ... faça-me o favor de morrer logo,seu puto. Pragueja o belicoso e chulo Andrew.
- Se Deus quiser, filho... se Deus quiser. Sussura o velho asiático, mirando o afastar-se do jovem desolado. Durante longos minutos sustentou o olhar que fitara a operação inversa do amigo que peregrinava de volta à meca ocidental- o Fast food – local sagrado onde líquida e seguramente começava a américa. Suspensa no ar, a fragrância anis do “ghalian” represava-se junto ao lustre pingente do obsoleto salão persa como se testemunhasse a inutilidade daquele reencontro.

Concluído em 20 de Fevereiro de 2007.

sexta-feira, 6 de abril de 2007


A Ordem da Mosca ( cap. V ) - Young America, adeus.


Estevan surge desconfigurado junto ao jornaleiro que proclamava aos quatro ventos mais um sanguinolento manjar à base de vìceras para o sensacionalista apetite da população:_ Manchete do dia! Acidente de trânsito envolvendo calouros da A.S.L.O High School mata seis! O sol ainda cândido ascende lentamente à vidraça de um prédio em monótona escalada, patéticos transeuntes dirigiam-se apressadamente ao encontro de suas mórbidas rotinas diárias enquanto Andy reconstituia imagens de garotos com luvas de borracha e lençóis feito capa preparando-se para enfrentar o mais temido dos vilões, ninguém menos que Seu Marcílio do armazém.-Extra!Extra!Rodovia da Morte! Acentuava o vendedor do Clarim.- Seis estudantes morrem em acidente. Estranhamente sentira que tempo e espaço já não poderiam lhe fornecer as mesmas referências em órbita das quais gravitava o seu “Eu”, sequer sentia suas pernas que respondiam com voluntariedade à um emocional imperativo:-Fuja Andy! Ao contrário,uma onda de frio percorria-lhe os ossos diante de sua sombria inércia tremia o diário untado com a gelada sudorese das mãos.Temerosos, os olhos deslisavam bêbados de horror sobre aquelas catastróficas linhas e foi somente após uma longa e inútil reflexão que lhe escapara por uma fresta dos dentes antes serrados, a entreaberta constatação:-estevan tá morto. Contudo,indiferente à tragédia que se desenhava naquela manhã, havia um certo atrevimento naquele sol que insistia em aquecer seu rosto para sempre gelado pela fúria da perda.

Crianças lambonas teimavam com seus pais disputando vorazmente o direito à um último algodão-doce que restarada escassa féria de um pobre diabo naquela tarde nublada de agosto, que entre um picarro e uma tragada no atávico cigarro de palha setenciava:-argudão doce!Numa cadência não menos que tediosa.-barato argudão!Floristas desarmavam suas tendas,e num ruidoso lamento ensacavam as coroas excedentes à espera de algum familiar retardatário ainda aturdido por mais um ente que partira.Num assovio franzino, o vento precipitava-se ante o melancólico ranger de galhos das imensas araucárias, lembrando floreios de esgrima como no saudoso clássico Simbad, o Marujo._ Já estamos fechando. Faltam apenas quinze minutos! Advertia o porteiro.-Não se demore,filho. Não hospedamos visitantes, he,he... Aposto que não apreciaria passar a noite em companhia de corujas e dos...Mas Andy isolara apenas, na fala de praxe daquele velho rabujento,a crucial informação:-...apenas quinze minutos! Então era isso, você que ainda nem elaborou a perda de um quase irmão, possui míseros quinze minutos para encontrar o endereço, prestar-lhe apressadas homenagens e retornar,concluia à si mesmo Andrew josh Sorrento.
Vivia na morte do amigo o epíteto da sua. À esta incorruptível desidentificação com tudo que é efêmero e conhecido, havia um universo rendendo a mais prostrada reverência. “A morte possui seu próprio milagre”, ouvira certa feita algum intelectualóide de boteco proferir entretaças de vinho dos mais ordinários e “trintonas” com os cabelos sumariamente oxigenados. O ponto era que aos olhosdo mundo, sua dor parecia estar razoavelmente equalizada,considerando os reincidentes traços sombrios que compunhamtoda a personalidade melancólica: ao longo da vida,Andy já havia frequentado todo o métier psicanalítico que a relidade financeira de sua casa pudesse comportar e pelo menos oficialmente, nunca recebera desses profissionaisum diagnóstico que satisfisesse alguma classificação patológica específica. Características comportamentaisque não atendiam nescessariamente à um código delimitado,mas que entretanto apresentavam um genuíno poder de embaraçar as opniões de cisudos especialistas, garamtiam-lhe profundamente o mais refinado sentimento de inadequação social. Haveria, por consequência, em algum confim da dor estética, meio de emitir ao mundo um sintoma dessa abstrata agonia que sua impressão de realidade encontrava-se imersa?

Cada passo sobre as vielas emlameadas à pro-cura do mármore que deveria conter a singela legenda “ Estevan Maroto Jr. 1981-2003, Saudade dos que te amam” redesenhava um cortejo íntimo escoltado pela discreta romaria de pensamentos conflitantes. Enevoadas imagens pertencentes à iniciação púbere comum à infância de ambos e que em dado momento mesclavam-se à um vertiginoso e compulsório sentimento de religiosidade desbotavam-se em matises sépias de memória, oxidação e ruína. Uma encabulada garoaCedia espaço à pesados pingos de chuva que estouravam na superfície frágil de seu rosto sem que contudo expressassesequer uma mínima contração facial, uma sutil indiferença exterior que contracenava com sua desintegração psíquica anunciava algo de enfandonho:“O Homem-mosca está de volta.”

A Ordem da Mosca ( cap.IV ) - Teorema da Finitude

Cara, antes de mais nada quero que saibas que nunca soube o que e ter um irmao... entao Deus me deu voce.- a essas alturas enigmatico, evangeliza o precavido Estevan ao que perplexo, prontamente lhe indaga o in-terlocutor.- Sei, agora percebe-se que de ateu marxistate tornastes fervoroso carola!- Te antena rapaz,a partir de entao essa e nossa senha parainiciar-mos o assunto.-...Mpf! Ja estava prestes a me sentir lisongeado.- Que isso velho, confio em voce, ora bolas!- Tomarei como um galanteio, mas prossiga!- Numa cautela que seria obsessiva se nao fosse nescessaria,nosso articulador Estevan introduzia o amigo, nos quarenta minutos que seguiram a luz de uma tese sobreuma suposta conspiracao envolvendo grandes laboratorios,gente do mais alto escalao do governo ligada ao servico de inteligencia.- Tenho uma copia do relatorio descre-vendo suas movimentacoes excusas.-acrescentou ainda finalisando e dispos sobre a mesa um fac-simile de um artigo publicado em forma de dossie, algo como uma rese-nha bio-quimica.
O Paxil compoe uma categoria antidepressiva ligada aos chamados ISRS, inibidores seletivos de recaptacao de serotonina na qual o mais celebre representante e o Prozac. Sua atuacao consiste em elevar o teor do neurotransmissor serotonina nas sinapses acionando o impulso nervoso de celula para celula. Estima-se um deficit de aproximadamente 10% dos neurotransmissores que se perdem no processo, sendo 90% reabsorvidos. A fim de estimular a transferencia dos sinais, os ISRS mantem a serotonina no espaco entre os neuronios por mais tempo.
A prescricao dos ISRS para criancas e adolecentes foi proibida na Gra-Bretanhae em demais paises de colonisacao saxonica sua distribuicao ainda e permitida emboratrazendo em suas embalagens as advertencias para o risco do consumo entre os menores de 18 anos e o alerta devera serampliado apos a publicacao dos resultadosda pesquisa que aponta uma provavelconexao com o aumento do comportamento suicida entre adultos e jovens.
-Sei,mas exatamente que trunfo voce acredita esconder,uma vez que o proprio ministerio da saude deve estarinstaurando um devido estudo acerca da intervencao medicamentosa?-Pergunta Andrew, desacreditado ao avaliar a vocacao evasiva do artigo.- Pois sim. Nao consta como novidade que o Servico deVigilancia Sanitaria encontra-se acometido por uma inge-rencia em seu sistema de inspecao. Frouxo desse jeito,fica sucetivel de compactuar com a pesquisa subsidiadapelos proprios fabricantes e como nao costumo dar ponto sem no, obtive essa semana acesso as somas registradaspelas pesquisas empreendidas nos demais paises que o medicamento era comercialisado e acredite,onze entre os 3.455 pacientes que tomavam Paxil tentaram suicidio.- Nao me admira! Num pais que detem 20% da biodversidade do planeta e a propria legislacao dificulta o acesso de seus pesquisadores aos recursos naturais...Mas me diga Estevan maroto: -Voce pretende ganhar o premio Pulitzer atras das grades por hakear informacoessigilosas?- Em absoluto, meu caro. Nao e a fama que me instigasenao justamente o contrario... Sou apenas um informatalatino americano sem dinheiro no banco, se e que voce me entende?- Voce esta montando um banco com essas informacoes?- Somente o suficiente para financiar nosso plano deconquistar o mundo, he, he, he. Diga, quando se sentenervoso o que tem tomado?- Cha de camomila, cara. Cha de camomila. E voce?- Chivas. ... A la salud!- A la salud! O poente costumava recolher-se cedo no sexto distritoporem naquela tarde Andrew tivera a impressao que o solrebelara-se com Deus, feito crianca que insiste em ficar ate mais tarde brincando no parque
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A Ordem da Mosca ( cap. III ) - Etéreo, etéreo, etéreo

Como ia dizendo...ao perceber o conteúdo que repousava naquele recepiente que nem de longe pareciaVidro, o ardiloso Estevan não poderia deixar em brancosem soltar uma das suas - Gin tônica? Vem cá,isso não ébebida de viado? E já ia explicando qualquer coisa sobre seu problema com horários, momento que algum agente externo atravanca-lhe o raciocínio -’nabel.Suspi-ra. -Senhores! Cumprimenta a jovem. -”Se não é a casual e dissimulada voz de mulher” pensa Andrew. -Senhorita. Responde o último. Ao que prossegue à fitá-la, como o fazem os lobos quando estão famintos,por sua vez, Estevan. Passam-se longos vinte segundos aproximadamente, em deslumbrado silêncio que agarota chega a franzir a testa preferindo, em virtudedo volume de pedidos à anotar, despertá-lo do transe: - E nosso amigo Estevan, aceita um café? - Libanês. Num meio sorriso ,sucinto a sustentar o olhar de predador,completa Estevan que por sinal venderia até a alma em troca do deleite com aquele “rabo-de-saia”.’Nabel executa uma manobra de 180º levando consigo o bloquinho de notas, sua locomoção erapor assim dizer, de uma manhosa displicência, oque em absoluto desabonava sua plasticidade, pois mesmo feia ela era bonita. E o então lobo que acompanhava as fantásticas ondulações daquele nada modesto quadril num balançar contemplativo, obvserva como o faz o degustador de vinho: -Saliência íngreme em arrojo e modelagem. -Que que tem “agem”? Pergunta o colega que, digamos assim, não compartilhava exatamente da mesma opnião. Ao que anciava o prosseguir do assunto “a”.

A Ordem da Mosca ( cap. II ) - Opus Jukeboccus

Recém chegada de longas férias, leia-se manutenção, asaudosa jukebox estava finalmente voltando à ativa. Em meio à murmúrios incognoscìveis, sim e porquê só dessaforma é que se pode definir a compacta e indecifrável massa sonora que sucede nas efervecentes plenárias debotequim,”clisht!” fazia o crédito que dava ignição àcada tema escolhido. Algum bêbado que tivera a felicidade de num número de magia, apanhar do bolso seu último níquel, que descrentes, os demais gambás à muito julgavam perdido, após embaraçosas tentativas o introduz na velha máquina.-”Homens hic... de pouca fé” pensou. -Peraeh Andy, tá ouvindo essa? Ma’rapá, não é a... -É. “I wanna fuck myself” de G.G. Alin. -Ma’não?! -Sim. -...pra jogar uma pá de cau em cima do defunto! Lá vem ela... -Tá falando da música? -Não, da musa. Desapontado, explicava Estevan à AndyQue não raramente, causava-lhe a impressão de tratar-se de um ser renunciado à assuntos de natureza tal.

A Ordem da Mosca ( cap. I ) - Te Saúdo Seção da Tarde

Com uma toalha de rosto meio encharcada, coisa de minutos
travava um épico embate com aquele emperrado registro do
chuveiro o agora desencardido Estevan. No baneiro,evaporava
todo o cloro que a rede de abastecimento não tinha o
menor pudor de adicionar como encargo extra às contas
domiciliares. Tateava à esmo,cerrando os olhos escarlates
de reação alérgica, procurando aquela utilitária e fedida
toalhinha que sabe-se lá para que fins escusos já
a havia utilizado Desembaça absortamente o espelho na
patética contemplação das partículas do quase mofado pano
que um dia havia chamado de toalha, que pungentemente
aderiam à superfície sebosa daquele vidro sujo. Estava
quase gostando de ficar ali meditando acerca das relações
eletro-valentes em uma insólita e complexa analogia aos
desgarrados felpos de toalha bolorenta. E foi neste
contexto enevoado que um estridente e irritante chamado
telefônico rompia toda lìrica encapsulada por aquele
azulejo pegajoso:
-...Eu disse que já vai,caralho!! Praguejava tentando sem
sucesso envolver os quadris secos (de tão magros) com a
ínfima toalha.
-Alô, é Estevan?Perguntava uma radiofônica voz que
parecia vinda do além devido à um chiado crônico na ligação
que a relapsa prestadora não dava conta de sanar.
-Fala cof..irmãosinho!Cof..Tossia Estevan.
-E aeh, malandro? Aqui é Andrew.Estou ligando, pois tem
gente que não dá mais sinal de vida!
-Dá um tempo aeh,brother.Cof..A fumaceira do chuveiro era
tanta que .. Cof,cof... Eu parecia estar era em Awshvitz.
-O quê que têm witz? A ligação tá muito ruim,velho! Repli
cava a radiofônica voz do além.- Mas escuta,cara...em
relação à aquele “assunto”, alguma novidade?
- Não se trata de qualquer novidade. O que eu tenho para
nós é uma solução quase milagrosa, he,he... Não se conteve
o recém astuto Estevan, que para ornamentar a evasiva aura
do seu “engenhoso plano”, tratou de sugerir que não
falassem,por precaução, ao telefone.-Oito horas no
Tamoio’s está bom? Quem chegar por último paga a ceva!
-Certo... No Tamoio’s. Abraço.

Escaços feixes de claridade difusa embrenham-se intermitantemente nas lacunas que compunham a copa daquela outrora jovem figueira e que certa feita servira de testemunha à um ilícito e fruitivo abandono à atividade corpórea entre um casal de namorados que tinha por sigilo, assíduos e impetuosos afagos após o culto da Igreja de Confissão Pentecostal do Sexto Distrito. Com efeito, era esse mesmo recôncavo que agora, perdido de cupim acolhia o retorno ao ninho da
brava bem-te-vi que realizando solenes evoluções antes do pouso, trazia consigo, um suculento e nutritivo verme para a ceia familiar. Pois bem, esta era a Praça
do Peixoto: uma nostálgica coleção de seringueiras,
vespeiros, merda de cachorro e onde incorriam-se torpezas de toda ordem à exemplo dos preservativos e seringas que espalhavam-se entre os arbustos. Desarmo-
nicamente orquestrava-se, naquelas adjacências o dissonante coro de camelôs,ambulantes e fiscais de fim-de-linha-”Délcio Borja,via americana sai às nove!’...”barato o oliú!”...”Vai uma lixinha pros pé, visinha?”...”Vamo liberar a roleta subindo bem àcima!” Quase em fronte ao ponto do Rápida Marina estava
o Tamoio’s, boteco que não deixava-se sucumbir,nem mesmo com as atrozes investidas da Secretaria da Saúde.
-Mas rapaz, você sofre de distúrbio de fusos horários... A observação exalava hálito de cinzeiro e de onde mais poderia vir senão da paciência mórbida de Andy? Ao que replicava com insolência o suorento e atrazado Estevan:
-Gin Tônica? Vem cá, isso não é bebida de viado?
-À uma hora atráz estava gelada. Vai um gole “aeh”?
-Digamos assim, que a pontualidade não seja algo de exatamente invejáv... e mais uma vez o pitoresco re-
tratamento era desarticulado,”rham”... se permitir o
encejo, diante dos portentosos atributos de Anabel, a garçonete,que apoteoticamente surgira de tráz da cortina de vime. Ah... Anabel, ou como preferia naquele
suspiro monótono quase sussurrar-...’nabel.